ARTIGO – Covid-19: Pronação no leito e melhora da oxigenação e perfusão pulmonar

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POR GUSTAVO VIANA*

Os primeiros sinais e sintomas que me fizeram entender que eu estava com o vírus causador da covid-19 surgiram no dia 27 de dezembro de 2020, um domingo. Após uma produtiva pescaria de caiaque com a esposa, onde embarcamos carapebas, baiacus e salemas, comecei a sentir uma cefaleia (dor de cabeça) terrível no período noturno desse mesmo dia.

Durante a madrugada, apareceu o primeiro sinal de que algo pior poderia surgir: febre alta. Na segunda pela manhã, procurei orientação médica. Fui submetido à tomografia de tórax, onde injúria alguma foi detectada. Apesar da cefaleia e do meu estado febril, minha respiração estava ótima. Aplicaram-me dipirona e diclofenaco para o controle da dor e da febre.

Voltei para casa com o protocolo medicamentoso para covid-19, já conhecido: azitromicina, ivermectina prednisona e dipirona, em caso de persistência do estado febril. Meu exame de PCR para covid-19 foi feito no dia seguinte, uma terça-feira. Na quinta, comecei a ter febre novamente enquanto perdia o paladar, o olfato e a vontade de comer. Na sexta, saiu o resultado da PCR: positivo para covid-19. Sábado (02/01) e domingo (03/)1) foram os piores dias! Fraqueza generalizada, febre, mialgia (dor muscular) de membros inferiores e coluna. Segunda (04/01) retornei à mesma clínica que passara anteriormente e, após os resultados de uma nova tomografia de tórax e gasometria, fui internado imediatamente em leito de CTI. 

Os dois primeiros dias no centro de terapia intensiva (CTI) foram terrivelmente assustadores. Pela expressão facial e pouco ortodoxa de uma técnica de enfermagem ao ver minha segunda TC do tórax, estava certo que a internação era para morrer. Pensava em meus filhos, minha esposa, minha família, meus amigos, meus cães e em tudo que vivi. Fui submetido a duas punções: subclávia direita para receber medicamentos e uma punção da artéria radial no punho esquerdo para avaliação constante da pressão arterial e recolhimento de sangue para gasometria.

A gasometria arterial é um exame de sangue que tem como objetivo avaliar os gases presentes como o oxigênio, gás carbônico, ph sanguíneo, bicarbonato, dentre outros. A dosagem de alguns eletrólitos também pode ser encontrada. Como fui acometido pela covid-19 a minha PO2 (perfusão de oxigênio) encontrava-se muito baixa, assim como a minha SatO2 (saturação de oxigênio). Devido a estas duas variáveis tive que receber oxigênio extra através de máscara e posteriormente catéter.

Mas, como nem tudo é deserto, apresentou-se ao meu lado um anjo em forma de fisioterapeuta. Drª Rafaela Freire virou-se para mim e indagou. “Gustavo, quer sair dessa?”. A resposta pode ter saído alta e em bom som. “Mas é claro que quero!”, respondeu um fisioterapeuta assustado pela situação complicada que passara. “Então, tente dormir ou passar o mais tempo possível na posição pronada”, respondeu a sincera e competente fisioterapeuta. 

Sinceramente, não consegui dormir de barriga para baixo, pois a posição de prono é muito desconfortante para mim e, com todas aquelas parafernálias coladas ao corpo, foi impossível relaxar e dormir. Contudo, permanecia por 3 ou 4 horas na posição de prono por dia, durante os quatro primeiros dias na UTI. 

Segundo Rafaela, a posição pronada facilita a expansão pulmonar, o que resulta numa eficaz perfusão sanguínea pulmonar. Um outro benefício da posição pronada é que, nesta posição, os pulmões recebem oxigênio de forma homogênea. A saturação de oxigênio também melhorava consideravelmente. Neste caso, eu mesmo pude constatar pelo monitor. Enquanto saturava a 90% de barriga para cima com aporte de O2, na posição pronada saturava 96% com essa mesma ajuda extra de O2. 

E foi assim, com ajuda de toda equipe da UTI, médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e técnicos de enfermagem, que consegui vencer a luta contra covid-19. Minha alta veio dia 14/01/2021, ainda pela manhã, depois de passar dois dias sem o auxílio extra de oxigênio. Hoje, me sinto espiritualmente melhor e mais fortalecido mentalmente. Agradeço pelo que passei e entendo que momentos difíceis lapidam o aprendiz! 

Meus sinceros agradecimentos aos médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e técnicos de enfermagem do CTI da Mater Day, em especial à fisioterapeuta Rafaela Freire. 

*GUSTAVO VIANA é Graduado em Fisioterapia pela UNESA, Especialista em Acupuntura também UNESA, Especialista em Fisioterapia do Trabalho pela IBRA. Tem consultório próprio e atende há mais de 13 anos em domicílio. Foi Supervisor de Educação em Saúde do Núcleo de Controle de Zoonoses-NCZ de São João da Barra-RJ e tem experiência na área de SMS (Segurança, Meio Ambiente e Saúde).

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