O pulo ligeiro do presidente municipal do PSL Delcimar Gonçalves de Oliveira no cercado do prefeito reeleito Daniel Santana, então no PSDB, poucos dias depois de conhecido o resultado das urnas em 2020, mesmo com os liberais disputando as eleições majoritárias com candidato próprio, levantou suspeitas no final daquele ano. E, para muitos, quando Daniel confirmou Delcimar como um dos primeiros nomes no seu secretariado, para o cargo de Secretário de Governo, todas as dúvidas haviam sido dissipadas.
No entanto, a recente declaração de uma das principais lideranças bolsonaristas de São Mateus confirma, com contornos mais claros, os indícios fortes de que o então PSL (atual União Brasil, depois da fusão com o Democratas), de fato, atuou como laranja dos candidatos Daniel Santana-Aílton Caffeu, da Coligação Trabalho e União por São Mateus (PSDB, Cidadania, PTB, PDT e MDB).
“Provavelmente essa articulação já estava, antecipadamente, acordada. Provavelmente, isso já estava articulado. Essa é que é a impressão que deixa, né?”, afirmou o professor Marcelo Suzart em entrevista ao Eita! Podcast na sexta-feira (10/12).
Ex-candidato a deputado estadual pelo então PSL em 2018, Suzart respondeu a questionamento do apresentador Déo Santana a respeito do modelo de “fisiologismo” que teria sido observado em nível nacional da sigla, que estaria sido observado em alguns estados e municípios, como São Mateus. À época, Delcimar foi um dos coordenadores da campanha de Marcelo Suzart, que pediu votos para Jair Bolsonaro no norte capixaba.
Déo lembrou que “o PSL havia disputado a eleição para prefeito com o candidato Laurinho Barbosa”, com programa de governo alternativo e crítico ao do primeiro mandato de Daniel, e, posteriormente, o presidente do partido, Delcimar Gonçalves de Oliveira, passou a compor o segundo mandato do prefeito reeleito. Na entrevista, Marcelo Suzart confirmou que o fato motivou o seu pedido de desfiliação do então PSL em São Mateus.
TRANSPARÊNCIA E COMBATE À CORRUPÇÃO?!
Na Eleição 2020, o PSL, presidido por Delcimar Gonçalves Oliveira, compôs com DEM, PTC e PSC a Coligação Unidos pela Reconstrução de São Mateus.
No Programa de Governo, registrado na Justiça Eleitoral [veja aqui], a coligação apregoava: “Propomos um governo decente, diferente de tudo aqui que nos jogou em uma crise ética, moral e fiscal. Um governo sem toma-lá-dá-cá, sem acordos espúrios. Um governo formado por pessoas que tenham compromisso com o Município e com os mateenses. Que atenda aos anseios dos cidadãos e trabalhe pelo que realmente faz a diferença na vida de todos”.
O partido sob o comando de Delcimar prometia aos Eleitores Mateenses “quebrar o atual ciclo” e enfatizando: “Com um São Mateus livre do crime, da corrupção e de ideologias perversas, haverá estabilidade, riqueza e oportunidades para todos tentarem buscar a felicidade da forma que acharem melhor”.
Dizia mais o Programa de Governo do PSL: “São Mateus passará por uma rápida transformação cultural, onde a impunidade, a corrupção, o crime, a ‘vantagem’, a esperteza, deixarão de ser aceitos como parte de nossa identidade nacional, pois não mais encontrarão guarida no governo”. E concluía reforçando: “Transparência e combate à corrupção são metas inegociáveis”.
O prefeito Daniel Santana foi reeleito com 20.899 votos e a candidatura do PSL ficou na quinta colocação entre os 10 candidatos que concorreram no pleito, com 1.801 votos. A votação foi bem menor do que a dos(as) candidatos(as) a vereador(a), que alcançaram 6.000 votos.
ALIANÇA ‘FORTE‘
E, ao que parece, a aliança entre Daniel Santana, ex-PSDB, e Delcimar Oliveira, presidente municipal do PSL, segue firme. Na noite do dia 22 de dezembro, logo após a confirmação da autorização do retorno do prefeito ao cargo, por meio de liminar do ministro-presidente do STJ Humberto Martins, Delcimar era um dos mais entusiasmados na recepção a Daniel da Açaí na porta do Centro Administrativo da CMSM, no Bairro Carapina.
No dia seguinte, Daniel retornou Delcimar ao seu secretariado: ele foi confirmado como titular na pasta de Planejamento, Captação de Recursos e Desenvolvimento; e responde interinamente também pela Secretaria de Governo.
OPERAÇÃO MINUCIUS
Daniel Santana, uma servidora pública, um operador dele e cinco empresários ficaram presos por 10 dias depois da Operação Minucius, em 28 de setembro. O prefeito ficou afastado do cargo por 90 dias, por ordem da Justiça Federal.
A Polícia Federal, com apoio da Controladoria Geral da União (CGU), atua para fechar as investigações sobre supostas fraudes em licitações na Prefeitura de São Mateus, corrupção e lavagem de dinheiro, o que permitirá que o Ministério Público Federal (MPF), finalmente, entre com a denúncia no Tribunal Regional da 2ª Região (TRF-2). Há fortes indicativos de que Daniel Santana e outras pessoas ligadas a ele sejam indiciados no inquérito da PF.
O OUTRO LADO
O CENSURA ZERO fez contato com Delcimar Gonçalves de Oliveira, na noite desta terça-feira (28/12), para saber o posicionamento dele sobre o assunto abordado nesta reportagem.
A demanda foi recebida por Delcimar, com pedido de “retorno o quanto antes”. Mas a solicitação ainda não foi atendida. Assim que recebermos o retorno, o texto será atualizado.
O espaço está aberto também para o prefeito Daniel Santana, caso queira se manifestar.
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