Na época em que o futebol brasileiro era recheado de craques, como Zico (Flamengo), Reinaldo (Atlético Mineiro), Sócrates (Corinthians), Roberto Dinamite (Vasco) e Mendonça (Botafogo), a TV Globo no quadro ‘Os Gols do Fantástico’, era uma grande atração; audiência total nas noites de domingo.
E, de repente, o então apresentador Léo Batista (falecido recentemente) surpreendeu a todos ao anunciar como ‘Gol do Fantástico’ o tento assinalado por Deinha, que, na época, jogava pela Associação Atlética de São Mateus. A partir daquele dia, Robson Campos Santiago passou a ser conhecido pela alcunha de Deinha, o ‘Gol do Fantástico’.
O meia Deinha começou a carreira sendo campeão da Copa A Gazetinha de 1978. Conquistou títulos de juniores e profissionais pela Associação Atlética São Mateus, Desportiva Ferroviária, Guarapari. Disputou os campeonatos Mineiro, Catarinense, Capixaba, Paulista, Carioca e Baiano.
“Falar sobre o ‘Gol do Fantástico’ é muito fácil. Foi um momento de bênção que Deus me deu, um momento importante dentro de uma partida de futebol, onde estávamos perdendo o jogo, e eu consegui marcar um gol mitológico. Foi um momento de muita sorte, ter tido a visão de ver o goleiro adiantado e, devido à distância quase do círculo central, eu ter acertado o gol”, relata Deinha, em entrevista ao CENSURA ZERO.
Ele afirma que, por ironia do destino, muitas pessoas brincam com ele sobre isso, tanto em tom de brincadeira quanto para relembrar: “Até hoje, quando me veem pela rua, me encontram e me chamam de ‘Gol do Fantástico’. Dizem que eu fui chutar, lançar e acertei o gol, o que faz a gente lembrar do momento que marcou e também ajudou o time do São Mateus a empatar o jogo. Então, foi um momento de glória, de bênção e, graças a Deus, eu tive esse privilégio”.
Jogo inesquecível
Deinha relata que um jogo inesquecível do qual participou foi contra o Atlético Mineiro, pelo Campeonato Mineiro de 1985.
“Quase fiz um gol no goleiro [goleiro] João Leite, no mesmo estilo do gol que fiz no São Mateus, aquele que foi destaque no ‘Gol do Fantástico’. Foi quase parecido, mas a bola bateu na trave. O João Leite estava adiantado, correu para trás e caiu para dentro do gol. Naquele jogo, o time mineiro se interessou por mim, mas depois tive uma fratura e não fui contratado”.
Técnico que mais admirou
O ex-jogador da Associação diz que “admira muito” o técnico Laone Luz, um gaúcho que foi treinador dele na Desportiva Ferroviária.
“Eu era cabeça de área e o japonês também estava no mesmo setor do time. Realmente, ele encontrou um novo jeito de me colocar para jogar, pois eu tinha boa técnica e era destro, e ele me lançou no time principal, na meia, onde me destaquei e fui revelação do Campeonato Capixaba de 1984. Então, devo muito ao Laone”.
As melhores lembranças
Em 1988, Deinha estava no time do São Mateus e foi convocado para a Seleção Capixaba para jogar contra a Seleção Pré-Olímpica, com jogadores como Dunga, Assis, Kita e Gilmar Popó, entre outros.
“Fui convocado pelo técnico Cosme Eduardo”, recorda.
Decepção no futebol
Mas há más recordações também na carreira de Deinha. Ele conta que estava de saída para o Corinthians, com tudo acertado entre a Desportiva e o time paulista para ser cedido por empréstimo de Cr$ 3 milhões [três milhões de cruzeiros] e com passe fixado em 30 milhões, mas a transação não se concretizou.
“Depois que fomos campeões juniores, a Portuguesa de Desportos apareceu também interessada. A Desportiva quis aumentar o valor do empréstimo e da contratação. Não fui para o Corinthians nem para a Portuguesa, a negociação melou. Aquilo foi uma decepção. Eu ameacei parar de jogar, mas tinha passe preso à Desportiva. Por esse motivo, infelizmente, não fui. O Corinthians não quis pagar o aumento para 60 milhões [de cruzeiros]”.
Investimentos no futebol capixaba atual
Na entrevista ao CZ, Deinha avaliou que o futebol capixaba está numa situação muito difícil.
“Pode ser que mais cedo ou mais tarde se recupere, mas, infelizmente, neste momento, acredito que enfrentamos dificuldades. A não ser que venha alguma grande empresa, uma SAF [Sociedade Anônima do Futebol] que venha a investir aqui. Primeiro, teria que investir bastante para o time ganhar o Estadual, fazer uma boa Série D, depois C, até chegar à Série A. Ninguém vai querer passar por todo esse processo. É difícil! Se vier uma SAF para investir, vai preferir um clube que já está inserido na Série A do Campeonato Brasileiro, e não investir num projeto de curto e longo prazo. O Espírito Santo vai ter que se levantar com as próprias pernas”.
Conselho para os jovens jogadores
A formação de atletas jovens no Espírito Santo é difícil, de acordo com Deinha. Ele entende que os atletas que têm capacidade de se projetar no futebol logo buscam oportunidades em outros estados, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
“Então, aqui vai ser difícil aparecer um atleta que consiga se destacar localmente para depois ser reconhecido nacionalmente. Como no caso do Geovani, que surgiu na Desportiva Ferroviária, nas categorias de base, e depois foi para o Vasco da Gama. Hoje em dia, os jovens já começam cedo, com 12 ou 13 anos. Se esperar atingir uma certa idade aqui, no nosso Estado, dificilmente, vai conseguir se projetar, porque já é considerado velho para o futebol. Se quiser fazer uma carreira, tem que sair cedo”.
Segredo para conquistar títulos
O ex-jogador avalia que conquistar um título é uma conquista “muito coletiva”.
E explica: “Ninguém conquista nada sozinho, especialmente no futebol, que é um esporte coletivo. Quando um grupo está alinhado com o mesmo objetivo, sem vaidade, todo mundo pensando em ser campeão juntos. É claro que todos querem jogar e todos vão lutar com lealdade, tanto nos treinos quanto fora deles, respeitando uns aos outros. Se formando uma família unida, isso se torna um fator muito forte. É óbvio que não adianta só ter essa união; é preciso ter qualidade, bons jogadores e uma boa diretoria. É um fator único onde todos precisam estar alinhados com o mesmo pensamento. Pode ter certeza que isso facilita a conquista do título”.
Futebol em São Mateus
Morador de Guriri, Deinha vê com tristeza a situação atual do futebol profissional em São Mateus, “que sempre lotou estádio, mesmo quando o time não fazia uma boa campanha”.
O ex-jogador lembra que a torcida sempre foi apaixonada pelo São Mateus, pelo futebol: “E hoje não ter times que a representem bem [a Cidade], infelizmente, é triste e é ruim”.
Remédio para o São Mateus voltar à elite
Para o São Mateus voltar a ser destaque no futebol capixaba, na avaliação de Deinha, é preciso um bom investimento.
“Ter apoio dos empresários, da Prefeitura e contratar bons jogadores, mesmo que não sejam de alto nível. Infelizmente, o futebol capixaba está em decadência e fraco, então não há mais futebol capixaba da mesma forma, na minha opinião, com todo respeito”, afirma.
Deinha acredita que não é difícil e diz que basta que o poder público e os empresários se unam para montar um time bom e voltar à elite do futebol capixaba com chances de ser campeão.
“Hoje em dia, vemos que os times da Capital, que antes eram os mais fortes, agora não são mais; e o interior é quem manda. Lembrando que o São Mateus e o Linhares já foram campeões. Não há muita dificuldade”.
Mágica para futebol capixaba subir para Série C
Quando perguntado qual seria a mágica para o futebol capixaba subir para a Série C, Deinha diz que “não tem outra coisa, a não ser investidor”.
“Precisa ter investidor pra contratar bons jogadores, experientes, rodados, que já disputaram essa competição. É preciso montar um time forte pra competir, porque, se ficar disputando sem jogadores de expressão, acho difícil subir de categoria”, sentencia o ex-atleta da Associação Atlética São Mateus.
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CENSURA ZERO – AQUI TEM CONTEÚDO! | REDAÇÃO MULTIMÍDIA | COLABORAÇÃO: LÉO CUNHA
