A Escola Estadual Ceciliano Abel de Almeida, por meio do Projeto Equidade Racial, preparou uma bela homenagem para Zacimba Gaba, princesa angolana trazida para Brasil, em meados do Século XVII, que montou uma estratégia para libertar, em alto mar, os negros que vinham para o Porto de São Mateus, no norte do Espírito Santo.

O vídeo que destaca a arte em grafite na parede do prédio e no muro da escola faz homenagem aos artistas e ativistas da cultura mateense, mas, curiosamente, “esquecia” do escritor Maciel de Aguiar, cujo primeiro livro foi, exatamente, o resgate da história de Zacimba Gaba.

“No coração da nossa cidade de São Mateus, Espírito Santo, ecoa até hoje a força e a bravura de Zacimba Gaba — mulher negra, rainha africana escravizada, que transformou dor em luta e opressão em liberdade. Zacimba não aceitou as correntes que tentaram calar sua alma livre. Mesmo diante da crueldade, planejou, resistiu e libertou a si e a outros irmãos e irmãs de cativeiro. Sua história é escrita com coragem: ela não apenas sobreviveu, mas enfrentou e venceu”, destaca texto no perfil da Escola Estadual Ceciliano Abel de Almeida no Instagram.

Maciel de Aguiar estudou na Escola Ceciliano Abel de Almeida, o Colégio Estadual, de 1965 a 1969. Ele destaca que, aos 13 anos, em 1965, começou a fazer as pesquisas para escrever os livros que “as elites da época não queriam que fossem escritos”.

A sua literatura, com base na oralidade, sofreu discriminação, mas, após 60 anos, essa iniciativa única e pioneira no Brasil o ajudou a ser indicado ao Prêmio Nobel de Literatura, após 144 livros publicados.

“Agora, que virou moda ser quilombola, é fácil fazer homenagem a Zacimba Gaba e a outros personagens das lutas contra a escravidão, pois basta copiar ou plagiar os meus livros e não citar a fonte. E muitos ficam ganhando dinheiro de editais para fazer vídeos, desenhos, documentários e até livros sobre Zacimba Gaba, Constância de Angola, Clara Maria do Rosário, Rosa-Flor, Benedito Meia-légua, Negro Rugério, Preto Bongo e outros heróis quilombolas que foram ‘esquecidos’ pela historiografia oficial, mas todos são plágios ou cópias dos meus livros escritos e publicados com recursos próprios há mais de 50 anos”, afirmou o escritor ao CENSURA ZERO.

Maciel de Aguiar dedicou-se a pesquisar e escrever os 40 livros da coleção História dos Quilombolas, que tem Zacimba Gaba e outros personagens, até então esquecidos, a exemplo dos índios que enfrentaram os colonizadores e foram mortos na Batalha do Cricaré, que também aconteceu em São Mateus.

“Fazer justiça”

No texto de apresentação da homenagem a Escola Estadual Ceciliano Abel de Almeida destaca: “Em cada rua, em cada pedra antiga de São Mateus, sentimos a presença viva de Zacimba Gaba — símbolo maior da luta contra a escravidão e do poder das mulheres negras que ousaram sonhar com a liberdade. Que seu legado inspire gerações e continue a florescer nas memórias, nas escolas, nas rodas de conversa e nos corações de todos que acreditam na justiça e na dignidade”.

Em sua manifestação ao CZ, Maciel de Aguiar argumenta: “Querem ‘fazer justiça’, mas estão praticando uma enorme injustiça contra quem primeiro pesquisou e escreveu as histórias que muitos queriam que fossem esquecidas”.

O escritor destaca que sempre teve o objetivo de levar o conhecimento de suas pesquisas registradas nos livros ao público em geral, especialmente aos jovens e estudantes de São Mateus. Mas, em 2022, a diretora da época negou o espaço da Escola Estadual Ceciliano Abel de Almeida para a realização da exposição MACIEL DE AGUIAR – 70 ANOS, composta de seus 144 livros e outros aspectos de sua obra, que foi realizada em várias cidades brasileiras.

Em tempo: após a repercussão nas redes sociais, foi inserido em último lugar entre os homenageados como “memoráveis do nosso tempo”: “Escritor Maciel de Aguiar”.

Veja abaixo:

CENSURA ZERO – AQUI TEM CONTEÚDO! | REDAÇÃO MULTIMÍDIA