“Nós fomos roubados e humilhados. Foi uma covardia o que fizeram com a gente. Estávamos trabalhando e invadiram nosso caminhão e levaram nossas mercadorias”. Este é o sentimento da agricultora Júlia Schaffelen Ott, de 20 anos, que junto com o namorado Laerte Schuwanz e o sogro Delfino Schwanz, teve mais de R$ 15 mil em produtos agrícolas apreendidos pela Prefeitura de São Mateus, no final da madrugada desta terça-feira (26/05).
Vindos da localidade de Rio Possmorser, em Santa Maria de Jetibá, os agricultores estavam organizando as mercadorias em bancas, por volta das 4h da madrugada desta terça (26), no Centro de São Mateus, onde trabalhariam numa feira semanal. Segundo Júlia, um homem que se identificou como fiscal da Prefeitura de São Mateus e que portava o crachá de identificação ou uniforme, juntamente com vários garis, informou que apreenderia toda a mercadoria deles.
“Eles subiram em nosso caminhão e nós ficamos sem reação. Eram umas 20 pessoas, e nós estávamos em três. Ficamos desesperados. O homem que disse ser fiscal nos humilhava, nos chamava de ‘alemão’ e ‘alemoa’, e falava que iria levar toda a nossa mercadoria. Esse mesmo homem já havia passado na feira em outras oportunidades; chegou pedir um ‘agrado’ e já levou verduras nossas sem pagar. Ele fazia ameaças, mas nunca fomos notificados. Ele dizia que iria nos proibir de entrar no Município. Mas ele nunca estava uniformizado ou com crachá”, relatou Júlia Ott, ao Portal Revista Negócio Rural.
Além de muitas verduras e legumes, também foram levados cerca de R$ 1.500,00 em dinheiro, que estavam guardados em meio às caixas de mercadorias. “Por medo de assalto, sempre deixamos dinheiro escondido em vários pontos do caminhão. Foi tudo junto com as verduras. Tivemos quase R$ 15 mil de prejuízo”, afirmou a agricultora.
Durante a operação dos funcionários da Prefeitura de São Mateus, moradores gravaram vídeos que mostram as mercadorias sendo retiradas do caminhão e o homem que se identificou como fiscal ameaçava apreender até o caminhão.
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AGRICULTORES ACIONARÃO A JUSTIÇA
A agricultora Júlia Schasslen Ott afirmou ao Portal Revista Negócio Rural que já entrou em contato com uma advogada. Ela e os demais agricultores acionarão a Prefeitura de São Mateus na Justiça: “Tentamos conversar, falamos que iríamos doar as mercadorias, mas eles não deixaram. Só conseguimos salvar o alho e alguns poucos produtos que usamos. A Polícia Militar estava no local, mas eles não agiram em momento nenhum”.
Indignada, Júlia afirmou que apenas as mercadorias da sua família foram apreendidas: “Nós usamos máscaras, luvas, álcool em gel e até doamos máscaras para clientes que chegam sem. Tomamos todos os cuidados no momento da venda de nossa mercadoria. Por isso não entendemos o porquê de levar tudo dessa forma”.
Outro vídeo gravado durante o episódio na madrugada desta terça-feira (26/05) mostra a indignação dos agricultores vendo suas mercadorias sendo levadas.
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PREFEITURA CITA DECRETO
Em nota ao Portal da Revista Negócio Rural, a Prefeitura de São Mateus, por meio da Secretaria Municipal de Comunicação, justificou que um decreto proíbe que feirantes de outras cidades atuem no município durante a pandemia do coronavírus.
“A pedido dos feirantes, o município de São Mateus liberou a reabertura das feiras desde o dia 25 de abril, mas com o compromisso de seguirem várias medidas para evitarem a proliferação do coronavírus. Além dos cuidados quanto à higiene e desinfecção, uma das medidas foi a liberação apenas para os feirantes de São Mateus”, explicou a nota.
Dois caminhões da Prefeitura de São Mateus foram usados para transportar os produtos. Segundo a Secom, o objetivo com essa ação é “evitar que feirantes de fora tragam o vírus para o município, ou sejam infectados em território mateense e contaminem outras pessoas em seus locais de origem. As feiras estão liberadas em Guriri, aos sábados, e no Bairro Vila Nova, aos domingos”.
EXPLICAÇÃO VAGA SOBRE NOTIFICAÇÃO
Mesmo não comentando sobre a ação realizada na madrugada desta terça-feira (26/05) contra os agricultores de Santa Maria de Jetibá, nem se manifestando sobre a ação realizada pelo fiscal sem identificação, a Prefeitura de São Mateus argumentou que a fiscalização está sendo feita pelos fiscais, com o apoio da Polícia Militar.
“Quem descumpre as regras é notificado e as mercadorias aprendidas, seguindo o que consta a Lei Municipal 948/2010, que trata do Código de Postura do Municipal, no seu parágrafo 4º. No caso de material ou mercadoria perecível, o prazo para reclamação ou retirada será de 24 horas. Expirado esse prazo, se as referidas mercadorias ainda se encontrarem próprias para o consumo humano, poderão ser doados às instituições de assistência social e, no caso de deterioração, deverão ser inutilizadas”, destacou a nota.
O Portal Revista Negócio Rural questionou a Prefeitura de São Mateus se os agricultores foram notificados, mas a nota enviada pela Secom não respondeu se há comprovação de notificações oficiais anteriores à apreensão desta terça (26). Os agricultores que tiveram as mercadorias apreendidas afirmam que nunca foram notificados oficialmente.
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