POR GUSTAVO VIANA*

O Verão é a estação mais quente do ano, quando se tem o predomínio do calor e das chuvas torrenciais. Durante este período quente e chuvoso, um antigo problema de saneamento geralmente surge, principalmente após as chuvas: as enchentes e os alagamentos nas cidades.

Apesar de serem fenômenos naturais que têm como causa o excesso e intensidade das chuvas, as enchentes e os alagamentos podem ser intensificados por práticas nocivas humanas. As enchentes antrópicas, causadas exclusivamente pela ação ou pela passividade do ser humano, tem uma ligação muito próxima com a má utilização do espaço urbano.

A poluição causada pela falta de consciência humana, que tudo joga ao chão associada à ineficiência de saneamento, são problemas que parecem não ter fim. Coletas de lixo irregulares, assim como a insuficiente distribuição de lixeiras na cidade e um ineficaz sistema de drenagem, contribuem para o surgimento das enchentes e dos alagamentos.

Um sistema de drenagem eficaz passa pela quantidade satisfatória e limpeza regular (manutenção) de bueiros, grelhas e poços de visita; estes últimos quase sempre localizados no meio da rua. Bueiros velhos e que não atendam mais à demanda devem ser substituídos e o lixo acumulado retirado.

Bueiros, quando congestionados, perdem a função, deixando de receber água e encaminhá-la para a rede coletora de drenagem, prejudicando o escoamento e facilitando o acúmulo de água das chuvas no espaço urbano. Com base na regulamentação, as lixeiras devem ser disponibilizadas a cada 25 metros uma das outras em regiões comerciais, escolas e praças. Para os demais lugares, o padrão é de 50 metros.

OCUPAÇÃO DESORDENADA

Outra problemática é com relação à ocupação desordenada do espaço geográfico pela população ribeirinha. Para construir suas casas à beira-rio, a população ribeirinha precisa sacrificar a mata ciliar, mata importante que evita o assoreamento dos rios, efeito este que diminui o volume das águas por depósitos de areia, terra, argila e detritos, contribuindo para o surgimento das enchentes e alagamentos.

No entanto, o principal vilão e maior responsável pelos alagamentos e pelas enchentes é a impermeabilização do solo. Com a pavimentação asfáltica e a cimentação de calçadas e quintais, a água da chuva não encontra escoamento pelo solo, aumentando seu volume no espaço urbano e favorecendo as enxurradas.

Outra complicação e não menos importante é a disseminação das doenças infecciosas transmitidas pela água contaminada. A principal delas, a leptospirose, também conhecida como doença do rato, tem como agente causador a bactéria leptospira, encontrada na urina deste roedor, que em contato com a pele humana aberta pode desencadear infecção.

Os sinais e sintomas são parecidos com uma virose. É importante que a pessoa infectada informe ao médico o contato com água da chuva. A hepatite A, uma inflamação aguda do fígado, também pode ocorrer quando a pessoa entra em contato com a água contaminada das chuvas misturadas às fezes. Fadiga, náuseas, vômitos, dor e desconforto abdominal são os principais sintomas deste tipo de hepatite.

As enchentes também podem aumentar o risco de diarreia aguda, causada por bactérias, vírus e parasitas, além da febre tifoide, causada pela salmonella typhi, bactéria encontrada nas fezes de vários animais.

IMPACTOS NA ECONOMIA

Todos esses transtornos causados pelas enchentes e alagamentos ocasionam impactos também na economia. Considerando a maior metrópole do país como exemplo, num estudo recente promovido pelo Nereus (Núcleo de Economia Regional e Urbana da Universidade de São Paulo), cada ponto de alagamento na cidade de São Paulo gera, em média, perda de R$ 1 milhão no PIB (Produto Interno Bruto), totalizando mais de R$ 700 milhões anuais.

Segundo o professor e economista Eduardo Amaral Haddad, um dos responsáveis pelo estudo citado acima, em entrevista dada em 2013 a um importante veículo de comunicação, os impactos são variados.

Se o alagamento é de manhã, as pessoas não chegam para o trabalho, ou quando (os trabalhadores) já começam a perceber que vai alagar, antecipam a volta para casa. E ele continua sua análise: “Os clientes não chegam, as entregas não saem. A cadeia de valor é interrompida”.

A falta de saneamento ocasiona uma série de problemas à população e ao país. Somos todos responsáveis e devemos, como cidadãos, direcionar o lixo ao seu lugar certo, sem deixar de fiscalizar o poder público. A lei federal estabelece que a responsabilidade pelo planejamento do saneamento básico da população é competência do município. Fiscalizar também é nossa responsabilidade.

*Gustavo Viana é Graduado em Fisioterapia pela UNESA, Especialista em Acupuntura também UNESA, Especialista em Fisioterapia do Trabalho pela IBRA. Tem consultório próprio e atende há mais de 13 anos no domicílio. Foi Supervisor de Educação em Saúde do NCZ (Núcleo de Controle de Zoonoses) de São João da Barra-RJ  e tem experiencia na área de SMS (Segurança, Meio Ambiente e Saúde).

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