ARTIGO – Perdemos o Prêmio Nobel… Por enquanto!

MACIEL DE AGUIAR*

Ao menos em 2024, não ganhamos o Prêmio Nobel de Literatura. Mas, em 2025, continuaremos concorrendo e com o apoio de mais entidades e instituições internacionais.

Na última quinta-feira, a Academia Sueca, em Estocolmo, Suécia, anunciou a escritora sul-coreana Han Kang como a “vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2024”. Por certo, merecidamente!

A academia justificou a escolha da escritora “por sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana”.

E, ainda, segundo a Academia Sueca, o trabalho da sul-coreana tem “uma consciência única das conexões entre corpo e alma, os vivos e os mortos, e em seu estilo poético e experimental tornou-se uma inovadora da prosa contemporânea”.

Há anos não temos um escritor brasileiro indicado ao Prêmio Nobel de Literatura, com possibilidade de ganhar — os últimos foram Jorge Amado, Érico Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade e Lígia Fagundes Teles —, que reuniam grande prestígio e condições literárias.

No Brasil, lamentavelmente, sempre houve um misto de “inveja e desprezo” para que um brasileiro não ganhasse a maior láurea mundial, e não apenas na literatura, mas nas demais modalidades de premiação da Fundação Nobel, conhecida como Nobelstiftelsen.

Fui testemunha da ansiedade de dois dos nossos mais importantes escritores e meus amigos — Jorge Amado e Carlos Drummond de Andrade — que, no início de outubro, quando é anunciado o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, ficavam na expectativa. Mas, lamentavelmente, não foram escolhidos!

E, também, nunca houve no Brasil uma demonstração de apoio dos nossos governantes, até mesmo do Ministério da Cultura, no sentido de prestigiar um escritor brasileiro indicado, ao contrário dos dirigentes de países que foram contemplados.

No caso específico de meu Estado, o Espírito Santo, a impressão é que a minha indicação ao Prêmio Nobel de Literatura representa uma “condenação” pelo crime de ser autor de 144 livros ou por jamais receber financiamento da Lei Rouanet e, muito menos, recursos financeiros das leis municipais e estaduais de apoio à cultura. Os meus livros nunca foram editados com dinheiro público!

Confesso que, à época, ficava na torcida por Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado, até eles beijarem a face da eternidade, quando deixaram de concorrer. É que, depois da indicação, se a pessoa não ganhar, continua concorrendo nos anos subsequentes durante o tempo em que viver. Então, essa indicação é, digamos, ad immortalitatem! E ninguém jamais conseguirá retirar de um indicado o mérito da indicação!

Até hoje, no nosso idioma, o único indicado e premiado foi o escritor português José Saramago que, também, era meu amigo.

Certa feita, Saramago me confidenciou que foi vítima das mesmas vicissitudes enfrentadas por Carlos Drummond e Jorge Amado, principalmente por ele ser “rebelde, insubordinado, comunista e ateu”.

Não obstante isso, a Academia Sueca justificou a sua premiação “por escrever com parábolas portadora de imaginação, compaixão e ironia e tornar constantemente compreensível uma realidade fugidia”.

E, até hoje, muitos escritores premiados com o Nobel de Literatura se rebelaram contra o establishment, incomodaram as classes dirigentes e os detentores do poder em seus países, além de contar muitas histórias “esquecidas” pela historiografia oficial.

E, como a minha literatura, há meio século, é uma somatória de rebeldias, insurgências e insubordinações, não me incomoda que façam comigo o que fizeram com Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade e José Saramago.

Segundo algumas fontes internacionais, a indicação de meu nome ao Prêmio Nobel de Literatura tem como referência os 40 livros da série História dos Quilombolas — que retratam as lutas dos heróis negros que enfrentaram a escravidão e foram “esquecidos” pela historiografia oficial, pesquisados e escritos com base na oralidade, de 1965 a 1995 —, além dos 80 livretos, à época, publicados em mimeógrafo, durante a ditadura militar, e, depois, editados em 4 volumes de 620 páginas cada. Essas obras relatam dois momentos dramáticos e belos da História do Brasil, e com a versão que não é contada pela maioria dos livros escolares.

E as mesmas fontes também informaram que a minha literatura — sobre os quilombolas, que é pioneira no gênero no Brasil por sua base na oralidade, além da tetralogia Os Anos de Chumbo, escrita com a morte lambendo os calcanhares de minha geração —, contempla os critérios há muito adotados pelo Prêmio Nobel de Literatura.

Então, aos que torceram por mim em 2024, e, por certo, continuarão torcendo em 2025 — ou enquanto eu existir — expresso a minha minha gratidão e a certeza de que “apenas” a indicação de meu nome para a maior honraria da literatura mundial já representa uma extraordinária vitória.

Muito obrigado!

*MACIEL DE AGUIAR é escritor capixaba, nascido nas Barrancas do Cricaré, em Conceição da Barra. Contatos: @escritormacieldeaguiar | WhatsApp 27-999881257

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