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ARTIGO – Grandes empresas e a Sudene: sugestão aos novos prefeitos de Conceição da Barra e São Mateus

POR MACIEL DE AGUIAR*

O antigo território de São Mateus compreendia o noroeste e o norte da Capitania do Espírito Santo até 1640, quando a Vila Nova do Rio de San Matheus foi invadida pela Capitania de Porto Seguro para dar início ao comércio marítimo de compra e venda de africanos para a escravidão, comandado pelos poderosos senhores das famílias coroadas vindas da Bahia.

Em 1823, José Bonifácio de Andrada e Silva, conhecido pelo epíteto de “Patriarca da Independência” — em resposta à Câmara de Vereadores de São Mateus que ficou contra a Independência do Brasil e a favor da Bahia e Portugal —, baixou um ato devolvendo a enorme extensão territorial para a Província do Espírito Santo, mas não conseguiu acabar com a influência baiana das tradições religiosas e culturais, além dos hábitos e costumes que se mantém até os dias contemporâneos fazendo de São Mateus e Conceição da Barra os municípios mais baianos do território capixaba.

E os seus “filhos” e “netos” — Mucurici, Pinheiros, Ponto Belo, Montanha, Ecoporanga, Barra de São Francisco, Nova Venécia, Boa Esperança e Pedro Canário — também se tornaram uma extensão da Bahia no Espírito Santo.

Desde a implantação do poderoso comércio de compra e venda de negros para a escravidão, estabelecido no Porto de São Mateus, em decorrência do custo-benefício das correntes marítimas na travessia do Oceano Atlântico, as gestões da Câmara de Vereadores e da Prefeitura Municipal, foram, em sua maioria, comandadas por autoridades procedentes da Bahia que invadiram São Mateus com as suas famílias coroadas — Santos Neves, Faria Lima, Abreu Sodré, Oliveira Santos, Cunha, Almeida, Oliveira etc. — formadas em sua maioria por “cristãos novos” (judeus fugidos da Inquisição).

A predominância baiana em São Mateus vinha desde 1588, com o III Governo Geral do Brasil, com sede em Salvador, em função da morte de Fernão de Sá, filho de Mem de Sá, que resultou, segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, no “primeiro genocídio brasileiro” quando oito mil índios foram assassinados na “Batalha do Cricaré”, episódio que faz parte da História do Brasil.

Conceição da Barra e São Mateus, que representavam um só município, deram ao Espírito Santo quatro governadores — Graciano Neves, Constante Sodré, Antônio Aguirre e Jones dos Santos Neves — que eram de famílias de origem baiana que se estabeleceram em São Mateus, mas, a bem da verdade, os demais governantes do Espírito Santo sempre negligenciaram a região do rio que o gentio chamou Kiri-Kerê e fizeram com que as cidades de Conceição da Barra e São Mateus ficassem abandonadas durante muitos anos.

E, desde o predomínio baiano no noroeste e norte do Estado, a questão de limites entre a Bahia e o Espírito Santo vem obedecendo à imposição de uma linha imaginária, abaixo do rio Mucuri, imposta pelos fazendeiros de cacau da Bahia com propriedades na região — embora a Constituição Federal de 1988 tivesse estabelecido um prazo de 12 anos para as partes resolverem as questões lindeiras —, porém como a maioria dos governadores do Estado do Espírito Santo sempre foi negligente para com essa disputa, até hoje a questão continua no STF.

Em 1992, uma comissão de capixabas solicitou audiência ao então governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, para tentar sensibilizá-lo a ser favorável ao Estado do Espírito Santo recuperar 1.200 km² de terras em posse da Bahia, e ACM respondeu em uma reunião no palácio de Ondina: “— Aceito devolver ao Estado do Espírito Santo uma cova com sete palmos de terras”, e encerrou a reunião.

Depois, por influência do prefeito baiano de São Mateus Rui Carlos Baromeu Lopes, o agora senador Antônio Carlos Magalhães foi mais generoso para com o desprestigiado Estado do Espírito Santo e capitaneou a implantação da SUDENE no norte capixaba, que resultou no atual desenvolvimento empresarial e industrial, com dezenas de empresas instaladas em Linhares e Sooretama, embora São Mateus e Conceição da Barra ainda não entenderam que fazem parte da SUDENE e apenas duas indústrias — Marcopolo e Oxford — foram implantadas com esses benefícios fiscais, e, mesmo assim, devido ao competente trabalho do então secretário de Desenvolvimento de São Mateus, Luiz Fernando Lorenzoni, na gestão Amadeu Boroto.

Então, sugiro aos novos prefeitos de Conceição da Barra e São Mateus — o alagoano Erivan Tavares e o linharense Marcus da Cozivip — que procurem entender melhor a história entre a Bahia e o Espírito Santo para nomear profissionais competentes e secretários qualificados para fazer a implantação de novas indústrias com base nos incentivos fiscais da SUDENE que dois baianos — Antônio Carlos Magalhães e Rui Carlos Baromeu Lopes — proporcionaram ao norte do Estado do Espírito Santo.

Caso contrário, Erivan Tavares e Marcus da Cozivip continuarão cometendo os mesmos equívocos dos prefeitos que deixaram os cargos em 2024 e só fizeram milionárias contratações de bandas e trios elétricos da Bahia durante as últimas catastróficas gestões municipais de Conceição da Barra e São Mateus.

*Maciel de Aguiar é escritor, indicado ao Prêmio Nobel de Literatura | Contatos: @escritormacieldeaguiar e WhatsApp 27-99988125

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