ARTIGO – Restaurando a esperança

Por Felipe Rigoni*

O processo de redemocratização do Brasil foi um grande catalisador de sonhos e demandas outrora reprimidos pela ditadura. A constituição cidadã, que devolvia direitos aos brasileiros, e a criação de novos e numerosos partidos políticos, somados à possibilidade de escolha de nossos governantes, trouxeram esperança para o país. Seria finalmente possível dar voz às diferentes camadas da sociedade.

A esperança de um Brasil melhor foi evidenciada pela mobilização dos jovens no impeachment de 1992. Dois anos depois, a criação do Plano Real estabilizou a economia, deu fim à inflação e levou consigo os estoques de comida que mantínhamos em casa. O auge desta esperança foi quando, em 2003, um nordestino, operário, sem curso superior, chegou ao comando máximo da nação.

Em quase duas décadas de democracia, os brasileiros sentiram o gosto de eleger líderes que fizeram a diferença na vida dos brasileiros, com medidas que tiveram impacto até nas camadas mais pobres da sociedade. Esses anos de bonança, no entanto, esconderam como a máquina pública vinha sendo utilizada em favor dos poderosos há muito tempo. A esperança deu lugar ao medo e à revolta.

Os donos do poder trabalharam por seus próprios interesses e construíram estruturas quase imperiais, sem espaço para a antítese. A cada eleição, os brasileiros viam prefeitos, governadores e presidentes defendendo projetos mirabolantes, enquanto os hospitais permaneciam lotados, as escolas sucateadas e ineficazes, e as praças se esvaziavam por medo da violência.

A insatisfação generalizada com o sistema político levou o Brasil às ruas em 2013, não para protestar contra o aumento da passagem do ônibus, mas para cobrar eficiência da gestão pública. Mais que isso, clamamos por esperança. Pleiteamos um diálogo real, onde pudéssemos falar e ser ouvidos. Desejamos partidos que empoderassem o cidadão brasileiro, não os mesmos grupos de sempre.

A partir dessa vontade de transformação, novas lideranças emergiram, sem promessas fáceis e discursos rasos, mas comprometidas com uma nova redemocratização. Movimentos nacionais suprapartidários conseguiram conectar-se à sociedade, estimulando uma participação mais ativa da população no processo decisório.

Sem deixar as evidências científicas de lado, movimentos como Acredito, Livres, e Agora são exemplos desta forma transparente de fazer política. Não são partidos, mas ocuparam a lacuna deixada por aqueles que se afastaram da sociedade e fizeram das estruturas partidárias um balcão de negócios. Movimentos que provam a força e a relevância da participação popular na democracia.

Somos, ao mesmo tempo, um sinal da urgente renovação que carecem os partidos e uma semente da alternativa possível ao próprio sistema partidário tradicional.

Ao invés de estimularem uma visão imediatista, sempre focada nos ciclos eleitorais, os partidos devem abandonar o discurso fácil e se unir em torno de projetos estruturantes, capazes de mudar a vida dos brasileiros. No lugar de produzir candidatos populistas, prontos para as urnas, devem formar líderes comprometidos com a transformação do país.

Os conflitos causados por meu apoio à reforma da Previdência, para a qual apresentei nove emendas ao lado da deputada Tabata Amaral e do senador Alessandro Vieira, companheiros de Acredito, revelam a dicotomia entre a oposição utópica e a articulação real. Nenhum partido é capaz de, isoladamente, pautar as prioridades do Congresso e a agenda do país. É preciso sentar à mesa e construir consensos. Esta construção não é feita a portas fechadas, mas ouvindo cidadãos e especialistas, estudando o contexto local e as publicações científicas.

Este é o caminho que acreditamos e defendemos. Os movimentos cívicos sempre vão existir para restaurar a esperança da população. Resta aos partidos decidirem se buscarão a modernização por consciência ou por concorrência.

*Felipe Rigoni é mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Oxford, cofundador do Movimento Acredito e deputado federal pelo Espírito Santo.

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