CRÔNICAS DE NEIDE LIMA – A Estudante

Estudava… Mas não conseguia se concentrar nos livros, o pensamento voava.

Lembrou do filho que morava fora do Brasil, tão longe. Chorei…

Começou a pensar na filha caçula, casada, que estava brigada com o marido, dizendo: ‘Essa é a última vez’.

Não me preocupava, pois sabia que a última vez não durava três dias; o que me preocupava com minha neta, a minha primeira princesinha, que estava com febre e ainda não a levara ao médico.

A minha outra filha, que sempre demonstrava a fortaleza em forma de ser humano, estava aos pedaços, aos cacos como se diz, não aceitava e nem se conformava, e estava longe de superar a morte do pai, que foi tão de repente.

E eu? Tentava estudar para fazer vestibular para Ciências Sociais – primeira fase.

Não conseguia me concentrar. Pensava em tantas coisas ao mesmo tempo, principalmente nos problemas dos filhos, coisas de mãe. Acredito que todas são iguais.

Já era tarde da noite, o sono não vinha. Essa insônia crônica que não me dá a graça do descanso, do esquecimento.

Ah! Se eu dormisse!… Pensei em desistir de estudar.

Quem sou eu? Uma simples mulher negra, pobre, da periferia, tentando uma vaga na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)! Disputando uma vaga onde todos faziam questão de me dizer, me lembrar: ‘Na Federal só passam os filhos de ricos que fazem pré-vestibular nos melhores cursos do Estado’.

E a idade estava entre 16 a 20 anos. Eu já entrei na casa dos “enta”; mesmo se eu passasse, o que seria um milagre, estaria estudando aos quarenta e um, quarenta e dois…

O desespero tomou conta de mim, queria parar de estudar, desistir desse sonho. Afinal de contas, tanto tempo se passara. E, pelas leis da probabilidade, eu não tinha nenhuma chance.

Caí de joelhos e pedi a Deus que me ajudasse a desistir, ou que me mostrasse, me desse um sinal, uma palavra que indicasse se eu deveria continuar, ou não. Me senti envergonhada de colocar nas mãos de Deus uma responsabilidade que era só minha.

Mas comecei a chorar, me ajoelhei e abri a minha Bíblia, que sempre estava na cabeceira da minha cama. Abri, por acaso, em II Crônicas 18, versículo 5. Meus olhos caíram em um pequeno trecho do versículo que dizia “Ataque, pois o Senhor te dará a vitória“.

Oh! Glória! Eu acreditei que Deus estava comigo; a-le-lu-ia, aleluia!

Ataquei livros, apostilas, textos… Era muita coisa para estudar e eu não sabia por onde começar.

O importante era que, agora, eu tinha forças para continuar, pois eu acreditava, eu confiava que ia vencer contra tudo e todos. Tinha forças para vencer!

A partir daquele momento, eu acreditava que havia nascido para vencer, bastava eu atacar nos estudos daquele monte de livros, apostilas e textos, que era mais alto que meu sofá, pois, como tinha insônia, o sofá era minha cama, minha mesa de estudos.

Eu estava confiante. Apesar de ninguém acreditar, eu acreditava que nem uma folha de uma árvore cai se Deus não permitir, sem o Seu conhecimento, pois Deus é um Deus de vitórias, e agora eu tinha certeza: EU NASCI PARA VENCER!

A parir daí, minha vida mudou! Foi o início da mudança da minha vida de estudante pré-universitária. Eu trabalhava o dia todo e à noite, eu, literalmente, atacava tudo o que estava à minha frente.

O dia amanheceu para mim, lembrando do versículo bíblico e do filósofo romano Seneca, que dizia: “Não há vento favorável para quem não sabe aonde ir”.

Mas eu sabia onde queria ir, onde queria chegar.

EU QUERIA CHEGAR NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO!

E EU CHEGUEI!

*NEIDE LIMA é socióloga, graduada e pós graduada em Psicanálise Clínica, licenciada em Pedagogia e mestre em Políticas Públicas.

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