Ozorina Costa Barbosa, 71 anos de idade. Um nome desconhecido da população de São Mateus que vem sendo bastante citado nos últimos dias, desde que começaram a ser reveladas as informações oficiais sobre a Operação Minucius, realizada em 28 de setembro de 2021 pela Polícia Federal, que apontou o prefeito Daniel Santana Barbosa, o Daniel da Açaí, como o “chefe de uma organização criminosa que se apoderou da Prefeitura de São Mateus”. Dona Zau, como é conhecida, foi casada com Raul Barbosa, já falecido, que era pai de Daniel; ela é, portando, madrasta ou, numa expressão mais carinhosa, mãe de consideração do atual prefeito de São Mateus.

E, antes que algum desavisado questione por que o CENSURA ZERO está citando a vida pessoal de Daniel da Açaí, já que, por ética e decisão editorial, o veículo de comunicação sempre fez reportagens centradas na atuação dele como agente político público à frente do Poder Executivo de São Mateus, cabe explicar: o nome de Ozorina Costa Barbosa consta do inquérito da Polícia Federal, já concluído e agora em poder do Ministério Público Federal (MPF), para que, conforme o entendimento que tenha do conteúdo das investigações da PF com suas respectivas provas, ofereça, ou não, a denúncia à Justiça Federal contra Daniel da Açaí e outros indiciados.

O documento destaca que Daniel Santana inseriu a mãe como proprietária laranja em duas empresas que, na verdade, conforme seu próprio depoimento, pertencem a ele: a Mineração Litorânea S/A (Água Mineral Açaí), que tem ainda como sócio-proprietário Wagner Rock Viana, o Bolota, e a Multishow Produção e Eventos Ltda (responsável pelas bandas Trio Chaparral’s e Ases do Forró, e três trios-elétricos), cujo outro sócio-proprietário é César Lima do Nascimento, o Japão. Além destas empresas, o prefeito Daniel é apontado como o verdadeiro dono da Construshow Serviços Eireli (que tem como laranja Rogério de Castro).

MORADIA INCOMPATÍVEL COM VIDA DE EMPRESÁRIA

O que, inicialmente, chamou a atenção dos agentes da Polícia Federal foi o fato de dona Ozorina Costa Barbosa ser sócia-proprietária nas duas empresas de Daniel da Açaí. “O processamento de seus dados também mostrou incongruência ao identificar o endereço de sua residência em estado diverso da sede das empresas. Nessa vertente, procedemos a diligências no intuito de confirmar a localização e a identificação completa de Ozorina”, destaca o inquérito da PF.

Houve a constatação de que a residência de Dona Zau é na Rua Duarte da Costa, no Bairro Alagoas, em Teixeira de Freitas, no Sul da Bahia. Mas, no momento, ela está morando provisoriamente de aluguel numa casa próxima, para fazer a reforma em seu imóvel (que pertencia ao falecido Raul Barbosa), um apartamento no pavimento superior. Os agentes da PF apuraram que a tal reforma seria bancada por Daniel da Açaí, conforme os vizinhos, mas ainda não foi realizada. “Ressalte-se que o imóvel se localiza em lugar
humilde e não aparenta possuir muito valor, conforme demonstrado nas imagens”, frisa o inquérito policial. Pelas fotos, constata-se que a rua não é sequer calçada.

Os agentes federais comprovaram que Dona Zau mora atualmente num apartamento alugado na Avenida Presidente Getúlio Vargas, no Bairro São José, em Teixeira de
Freitas/BA. O inquérito da Polícia Federal frisa que Ozorina Costa Barbosa consta como sócia-proprietária da empresa Multishow, cujo capital social está na casa dos R$ 200 mil; e também sócia-proprietária da Água Mineral Açaí, ocupando o cargo de Diretora Comercial (conforme indicado na ata da Assembleia Geral Ordinária realizada em 28/03/2016). A empresa tem capital social de R$ 797.132,00.

“Em confronto a esses dados, encontram-se as declarações dos vizinhos de Ozorina, que informaram a mesma ser uma senhora humilde, aparentemente de pouca instrução formal e que vive da renda de dois pontos comerciais que ela possui abaixo de seu apartamento (totalizando algo em torno de R$ 800,00 – oitocentos reais); além disso, tanto a sua residência habitual assim como a sua atual moradia não aparentam ser condizentes com o padrão de vida normalmente ostentado por empresários desse nível”, assinala o inquérito da Polícia Federal.

Dona Zau, a mãe de criação de Daniel Santana está morando atualmente, de aluguel, neste prédio em Teixeira de Freitas-BA.

DANIEL CONFESSOU CRIME À POLÍCIA FEDERAL

Em seu depoimento à Polícia Federa, Daniel assumiu que a Água Mineral Açaí é de sua propriedade. Em cumprimento de mandado de busca e apreensão na empresa, em 28 de setembro de 2021, foram encontrados R$ 300 mil em espécie.

Soma-se a isso o fato de o telefone de contato da Multishow (27 99752-1115) estar em nome de Daniel Santana Barbosa, inclusive constando da página oficial da empresa no Facebook e em anúncios de shows das bandas. Um vínculo que ocorre, pelo menos, desde 2013, conforme comprovaram as investigações.

O inquérito da PF comprova também que o próprio Daniel da Açaí negociou com uma concessionária de Linhares as compras de uma Toyota Corolla Cross (R$ 157.240,00) e uma caminhonete Hillux (R$ 278.440,00), ambas nome da empresa Multishow Produções e Eventos Ltda, utilizando documentos do outro sócio-proprietário laranja da empresa, César de Lima do Nascimento. Junto a outra concessionária de Linhares, o prefeito Daniel Santana fechou a venda de um veículo não especificado por R$ 170 mil, valor depositado na conta da Multishow Produções e Eventos, conforme provas da Polícia Federal.

As investigações da Polícia Federal destacam que as análises feitas indicam que as contas das empresas Água Mineral Açaí e Multishow Produções e Eventos foram usadas para lavagem de dinheiro, inclusive com recebimentos de depósitos de verbas oriundas de contas de campanha de outros candidatos.

O OUTRO LADO

No relatório da Polícia Federal que compõe o inquérito encaminhado ao Ministério Público Federal, o nome de Ozorina Costa Barbosa, a Dona Zau, não aparece entre os 18 indiciados pela apurada prática de crimes. Ela foi intimada a depor em reunião da Comissão Processante da Câmara de São Mateus que analisa a denúncia com pedido de impeachment do prefeito Daniel Santana, mas não compareceu para a oitiva na segunda-feira (24/01/2021).

O mesmo ocorreu com os supostos sócios dela na Água Mineral Açaí – Wagner Rock Viana, o Bolota – e na Multishow Produções e Eventos – César Lima do Nascimento, o Japão. Estes dois, no entanto, são indiciados no inquérito da Polícia Federal pelos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Já Daniel da Açaí é indiciado pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, fraude em licitação, peculato e corrupção passiva. A PF destaca que o Chefe do Executivo “liderou organização criminosa que contou com a participação de servidores públicos, empresários e comparsas, a qual desviou recursos públicos federais, através de atos ilegais enquanto prefeito de São Mateus/ES, sendo sua função determinar as ações
que levariam ao desvio de recursos públicos”.

O CENSURA ZERO disponibiliza espaço para que, caso queiram, os citados, incluindo o prefeito Daniel Santana, possam se manifestar sobre os assuntos abordados nesta reportagem.

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