A peregrinação de um morador por hospitais particulares e públicos de São Mateus em busca de socorro para a esposa com os sintomas da Covid-19 revelou uma falha grave no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, que comprova que o atendimento ocorre de forma desarticulada no Município.

Morador do Bairro Santo Antônio, o microempresário E.L., de 37 anos, procurou o CENSURA ZERO para relatar o drama que tem enfrentado com a esposa, a promotora de vendas P.V.S.L, 39 anos, que há alguns dias vem apresentando sintomas da covid-19.

“No dia 6 de abril, ela teve contato com uma amiga. Na mesma semana, a amiga foi internada e, após teve a confirmação positiva para Covid-19. Após o contato, minha esposa começou a ter os sintomas”, afirma o homem, destacando que a amiga da mulher dele teve alta esta semana do Hospital Roberto Silvares, em São Mateus, que é referência regional para atendimento emergencial para o novo coronavírus.

Apresentando toda a documentação comprobatória, ele destaca que, por ter convênio particular, procurou o Hospital Maternidade São Mateus, na quinta-feira (23/04), para uma consulta médica para a esposa, que apresentava quadro de tosse, dor de garganta, falta de ar, desconforto respiratório, afirmando que teve febre nos primeiros dias. A paciente passou por consulta e fez raio-x do pulmão, que apontou anormalidade.

HOSPITAL ROBERTO SILVARES

O homem relata que a esposa foi encaminhada pelo médico para o Hospital Roberto Silvares, com requisição de exame diante da suspeita de Covid-19: “O encaminhamento era para internação e, com isso, fazer o teste [para Covid-19]”.

Mas E. destacou ao CENSURA ZERO que, chegando no HRAS, a esposa foi orientada a seguir a triagem normal, sendo atendida por uma enfermeira. No entanto, mesmo diante do relato dos sintomas característicos da Covid-19 e o encaminhamento médico para internação, a paciente recebeu orientação de que deveria “seguir com o tratamento médico prescrito e deveria procurar a UBS [Unidade Básica de Saúde], se provado o quadro”.  

A enfermeira do Hospital Roberto Silvares também anotou na ficha clínica da paciente que ela deveria ficar em “isolamento domiciliar”. Nesse momento, o acompanhante ficou indignado. “Se não tiver quase morrendo, com 40 graus de febre, eles mandam para casa. Por que o hospital não faz o exame?”, questionou ele, temendo que, uma vez contaminada, a esposa começasse a espalhar o novo coronavírus por onde circulasse.

O morador E.L. ainda fez um esforço e, no mesmo dia, já à tarde, passou na US-3, mas a solicitação para fazer o teste para Covid-19 também foi negado. O mesmo ocorreu nesta sexta-feira (24/04) à tarde, quando voltou à unidade da rede municipal. “Amanhã [este sábado], vou voltar no posto saúde para pedir uma solução”, afirmou.

O morador apurou que o exame em laboratório particular sai por R$ 800,00 junto com a consulta. Para tentar estancar o drama da família, ele tenta levantar o dinheiro: “Os hospitais particulares, municipal [US-3] e estadual [Roberto Silvares] não estão se entendendo. Um joga para o outro, não tem bom senso nas coisas”.

Segundo relatou o marido, a paciente não apresenta febre há três dias e já se recupera em casa, “mas sem apoio dos órgãos de saúde responsáveis”.

O OUTRO LADO

O CENSURA ZERO tentou, mas não conseguiu contato por telefone celular com a Direção do Hospital Roberto Silvares; mas disponibiliza espaço para os devidos esclarecimentos.

No Painel Covid-19, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informa o panorama de testes disponíveis e ocupação geral nos leitos de UTI para pacientes com Covid-19: “Testes disponíveis: 12.788 (PCR) / 47.200 (Testes Rápidos)”.

A Sesa informa que, atualmente, o Espírito Santo tem um total de 360 leitos disponíveis para atendimento a pacientes da Covid-19, e sendo que 192 estão ocupados (taxa de 53,33%). Dos 169 leitos de UTI, 117 estão ocupados (taxa de 69,23%).

Segundo o protocolo da Sesa, os pacientes em investigação por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) ficam em leitos de UTI de isolamento; sendo confirmados, são levados para unidades de UTI exclusivas para pacientes com Covid-19.

“Caso sejam descartados no PCR-RT, são removidos para outros hospitais. Caso o PCR-RT venha negativo, mas o paciente apresente clínica sugestiva de Covid-19, o paciente é definido como inconclusivo, podendo ser submetido a novas avaliações clínicas, laboratoriais e de imagem”, destaca o Painel Covid-19 ES.

A Reportagem também fará contato com a Direção do Hospital Maternidade São Mateus e com a Secretaria Municipal de Saúde, responsável pela US-3.

CENSURA ZERO – AQUI TEM CONTEÚDO! | REDAÇÃO MULTIMÍDIA