Até algum tempo atrás, a música dos Titãs representava o que queríamos bebida, comida, mas também queríamos diversão e arte. A gente também queria uma saída para qualquer parte, mas queríamos balé, queríamos fazer amor; a gente quer a vida como a vida quer, prazer para aliviar a dor; queríamos dinheiro e felicidade; queríamos por inteiro e não pela metade.
Hoje eu continuo achando a letra e a música lindas. Mas a nossa fome aumentou muito. Só diversão e arte, balé, dinheiro e uma saída para qualquer lugar já é muito pouco para nós, pois ainda hoje queremos tudo isso e muito mais.
Queremos igualdade de direitos, equidade, que é mais importante que paridade; queremos ter direito sobre o nosso corpo, queremos sair não para qualquer parte.
Queremos escolher e ser escolhidas para amar, para trabalhar como frentista, médicas, engenheiras, pedreiras, enfermeiras, astronautas, aviadoras, vereadoras, deputadas, senadoras, governadoras, vice-governadoras, donas de casa, pois sabemos que o nosso lugar é onde nós quisermos!
Continuamos querendo comida, água, diversão e arte. Mas hoje só isso já não basta para nós, pois queremos ter filhos quando quisermos e ter o direito de não querer tê-los, simplesmente porque não queremos ser mães e não ser julgadas por fazer essa escolha. Estudar o que quisermos e nos profissionalizarmos no que quisermos.
Queremos, sim, arte a que nós quisermos; dinheiro queremos, e muito, para viajar para onde quisermos e para qualquer parte, pois viajar nos traz conhecimento e saberes de outros povos e culturas.
Queremos que nos respeitem na igualdade salarial, que nos respeitem com quem queremos casar. Somos feministas e, por isso mesmo, queremos vestir o que quisermos, sem que ninguém nos critique pelo tamanho da nossa saia, ou pelo tamanho do nosso decote.
Pedimos que não meçam nosso conhecimento e saberes pelo cumprimento de nossas saias e decotes!
Queremos prazer, não para aliviar a dor, mas pelo simples fato do amor em si; e pelo prazer que possamos ter.
E você tem fome de quê? De comida? De água? de dinheiro? De prazer? De diversão? Ou de arte? Ou de um lugar para fugir ou para qualquer parte?
A única coisa que posso lhe dizer é que qualquer que seja a sua fome, procure, busque, corra atrás! Não deixe que ninguém, a não ser você mesma, mate a sua fome!
Que você possa ter fome de amor, de ser amada, de viajar, de conhecimento, de arte, de prazer, de rir, e até de chorar, se você quiser!
“Que nada nos limite / Que nada nos defina. / Que nada nos sujeite. / Que a liberdade seja a nossa própria / Substância” (Simone de Beauvoir).
*NEIDE LIMA é socióloga, graduada e pós graduada em Psicanálise Clínica, licenciada em Pedagogia e mestre em Políticas Públicas.
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